terça-feira, 26 de abril de 2016

Uma política de civilização

Um livro extremamente rico em conhecimento que acabei  de ler e recomendo aos meus leitores  é "Diante da Crise" de Luc Ferry, filósofo e autor de mais de 15 livros traduzidos no mundo inteiro.Entre 2002 e 2004, ocupou o cargo de ministro da Educação da França. O governo francês constituiu o Conselho de Análise da Sociedade, presidido por Luc, com o objetivo de pensar a sociedade e esclarecer as escolhas e as decisões do governo no tocante aos efeitos sociais. Este livro, é o relatório apresentado por Luc,, o qual defende que a crise atual não deve ser atribuída ao setor financeiro,uma vez que foi a economia real que deu origem à crise financeira e à crise de confiança que se refletiu na economia real. Segundo o autor, a primeira globalização começou com a revolução científica, que culminou no Iluminismo e permitiu à ciência moderna conduzir o mundo ao desenvolvimento, à felicidade e ao progresso. Esse ideal seria alcançado com uma ação política que daria sentido a História, no caminho do humanismo, da igualdade, da democracia, com o papel fundamental do acesso à educação e ao conhecimento. Segundo o autor, com a segunda globalização a do século XX, esse objetivo sofreu uma forte ruptura, com os mercados financeiros e as tecnologias de comunicação determinando  uma competição acirrada, cada vez mais desprovida de sentido e direção.Trata-se da mercantilização do mundo e do fim dos valores que conferiam algum sentido humano ao progresso e à felicidade dos povos.Com isso a política torna-se irrelevante, as ideologias, impotentes, e as consequências culturais e sociais, impossíveis de serem enfrentadas. Assim, é nessa gigantesca sociedade de consumo que tentamos encontrar, desesperadamente, espaço para novos valores.A crise que atravessamos é não apenas econômica e financeira. É uma crise do sentido da vida comum nas sociedades, cujo único horizonte já não pode ser o do consumo. As respostas que devemos dar a isso não podem ser exclusivamente técnicas. Também é preciso  pensar em termos de civilização.E é urgente reforçar a igualdade social, mas igualmente as solidariedades reais, no seio da família, entre as gerações,na empresa. Pois são elas e apenas elas a dar hoje um significado à existência cotidiana. É nessa perspectiva que o Conselho de Análise da Sociedade formula aqui propostas concretas que articulam com uma análise fundamental da situação presente.Ao final do relatório, diz o autor:Uma sociedade que parece atribuir à vida humana como único horizonte de sentido apenas o consumo, do cada vez mais, é intrinsecamente insatisfatória. E isso por uma razão fundamental: a distância entre o aumento exponencial dos desejos e a evolução relativamente lenta do poder de compra só pode criar frustrações irremediáveis e cada vez maiores, sobretudo se essa sociedade também tiver a indecência de expor, sem o menor pudor, o fato maciço e bem visível das desigualdades.Quando a vida em comum tem um sentido, a questão do poder de compra,pelo menos depois de passado o limiar da miséria, está longe de ganhar a importância que assume em uma sociedade que, conforme vimos, na verdade encontra maneiras e razões para organizar o nonsense. Vale a leitura e a reflexão do Luc Ferry sobre o momento por que passa a humanidade, para encontrarmos um  sentido e novos valores para a vida humana.

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