segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Um novo começo

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, professor titular da Uerj e mestre pela Universidade Yale, escreveu um artigo na revista Veja na coluna Página Aberta, cujo título é "UMA NOVA NARRATIVA"  no dia 08\02\2017, que aconselho a todos a lerem este excelente trabalho que mostra com muita clareza a convivência de virtudes incomuns com vícios primários existente em nossa sociedade que faz com que os brasileiros oscilem entre o ufanismo e a autodepreciação. Alerta o ministro: Precisamos definir o que somos e qual o nosso lugar no mundo.A seguir em resumo descrevo o artigo: " Na entrada do Oráculo de Delfos, na Grécia antiga, lia-se a inscrição:"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses". Atribuída a Tales de Mileto, essa frase é considerada o marco do nascimento da filosofia ocidental, ao passar o homem e sua capacidade de reflexão para o centro dos acontecimentos. Cabe a cada indivíduo definir a sua relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo.Isso vale para os países também. Temos algumas contribuições importantes para a causa da humanidade. Apesar de ainda existir um velado racismo, somos o país da diversidade racial e da miscigenação. Somos, também, o país da diversidade religiosa, no qual cristãos, judeus, umbandistas e muçulmanos convivem sem atritos relevantes. O país do bom humor, da alegria de viver, das festas populares e da extroversão. Gente sem medo e sem culpa de ser feliz. Mas somos, também, o país da desigualdade social extrema. Do número de homicídios superior ao de muitos países em guerra. Da violência contra todos, notadamente pobres, negros, mulheres, homossexuais e transgêneros. Da falta de habitações adequadas, de urbanização, de saneamento. Da favelização ampla, que degrada as pessoas, as cidades e o meio ambiente.Um país com deficiências dramáticas na educação pública, no transporte público, na segurança pública. Com poucas instituições de ensino de destaque e com monopólios públicos soterrados pela corrupção e pela ineficiência. Do jeitinho que contorna a lei, a ética e a isonomia.Mais recentemente, fomos protagonistas do maior escândalo de corrupção do mundo. A  convivência de virtudes incomuns com vícios primários tem feito com que a percepção do Brasil por seu povo e por seus formadores de opinião oscile entre o ufanismo e a autodepreciação: ou somos os melhores do mundo ou temos um sentimento de inferioridade diante de outras experiências nacionais.Precisamos de um exercício de pensamento original que ajude a definir o nosso lugar no mundo, o que somos e o que temos para oferecer. Uma nova narrativa, capaz de olhar para trás e para a frente, de apresentar diagnósticos e propostas. O ministro nos apresenta  três disfunções atávicas que marcam a trajetória do Estado brasileiro: o patrimonialismo, o oficialismo e a cultura da desigualdade. O primeiro revela o modo como se estabeleciam as relações políticas, econômicas e sociais entre o imperador e a sociedade portuguesa, em geral , e os colonizadores do Brasil em particular. Vem desde aí a difícil separação entre pública e privada, que é a marca da formação nacional.A aceitação resignada do inaceitável se manifesta na máxima"Rouba , mas faz". A segunda vem de longe também. Característica que faz depender do Estado isto é, da sua benção, apoio e financiamento, todos os projetos pessoais, sociais ou empresariais.Todo mundo atrás de emprego público, crédito barato, desonerações ou subsídios. Da telefonia às fantasias de Carnaval, tudo depende do dinheiro do BNDES, da caixa econômica, dos fundos de pensão, dos cofres estaduais ou municipais. Dos favores do presidente, do governador ou do prefeito. Cria-se uma cultura de paternalismo e compadrio, a república da parentada e dos amigos. Estabelecendo a expressão "Aos amigos, tudo; aos inimigos , a lei". O terceiro mal crônico. A cultura da desigualdade. A igualdade no mundo contemporâneo se expressa em três dimensões : a igualdade formal, que impede a desequiparação arbitrária das pessoas; a igualdade material, que procura asseguraras mesmas oportunidades a todos; e a igualdade como reconhecimento, que busca respeitar as diferenças de gênero e proteger as minorias, sejam elas raciais, de orientação sexual ou religiosas.Temos problemas nas três dimensões. Como não há uma cultura de que todos são iguais e deve haver direitos para todos, cria-se um universo paralelo de privilégios: imunidades tributárias, foro privilegiado,juros subsidiados, auxílio moradia, carro oficial, prisão especial. Cria-se a máxima que ainda prevalece: "Sabe com quem está falando?".Em épocas recente, conseguimos vitórias importantes: a superação da miséria absoluta,a proibição do nepotismo nos três poderes, a luta aberta contra corrupção, o enfrentamento da violência contra as mulheres, a legitimação das uniões homoafetivas, um debate mais aberto sobre a questão das drogas e sobre a descriminalização do aborto. Diz o mestre: decisões judiciais até podem ajudar a empurrar a história, mas, sem mobilização social, cidadania ativa e espírito cívico, avanços iluministas não se consolidam. A democracia é o governo do povo, não de juízes.A história é um caminho que se escolhe, e não um destino que se cumpre.Precisamos de um esforço de autocompreensão. Identificar nosso patrimônio comum, nossos valores, nosso projeto civilizatório. Sem dogmas nem superstições. Parabéns senhor ministro, artigo para ser lido por todos os brasileiros.

2 comentários:

  1. Me ajude, onde acho esse artigo escrito pelo ministro?

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  2. Mais pura verdade Mestre Marcos Alves,
    O Brasil vem calmando por mudanças é notório a necessidade extrema de criamos um cenário, com novos hábitos, novos pensamentos, novas expectativas de futuro, mais do que tudo uma nova forma de fazer e inovar, como uma pessoa que procura tomar um banho e vesti-se com roupas e limpas despojando da sujeira e tudo que nela agrega-se, o país precisa toma rumo em direção do nosso deixado de mudamos de calendário para mudar de vida.
    Adm - Ivan Soares
    Pós em Doc. do Ensino Superior

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