quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Funciona ou não funciona

No artigo anterior comentava sobre o livro da professora de jornalismo econômico Siyvia Nasar da Universidade de Colúmbia e a parabenizava pela riqueza de informações contida no seu livro "Imaginação Econômica". Mas no Epílogo - Imaginando o futuro, deste livro, a professora nos diz: "As verdades econômicas podem ser menos permanentes do que as verdades matemáticas, mas a teoria econômica era essencial para saber o que funcionava, o que não funcionava, o que importava e o que não importava. A inflação pode elevar o rendimento no curto prazo, mas não no longo prazo. Os ganhos de produtividade são os principais impulsionadores dos salários e dos padrões de vida. A educação e uma rede de seguridade social podem reduzir a pobreza sem produzir a estagnação econômica. Uma moeda estável é necessária para a estabilidade econômica e um sistema financeiro saudável é essencial para a inovação". Robert Solow ganhador do Nobel pela sua teoria do crescimento,observou: " As perguntas vivem mudando e as respostas a questões até mesmo antigas continuam mudando à medida que a sociedade evolui.Isso não significa que desconheçamos o que é útil, em determinado momentos". Fazendo uma análise comparativa com o artigo do excelente economista Alexandre Schwartsman , na folha de São Paulo, no dia 06\02\2013, cujo título é "Improviso e Tema", com o que foi descrito acima, nos deixa preocupado quanto a condução da nossa política econômica atual, diz o mestre: "Inflação alta e crescimento baixo são resultado de um política deliberada, fruto da mistura de voluntarismo e ignorância.Se restava ainda alguma dúvida acerca do grau de improviso que tem marcado a condução da política econômica nos últimos anos, a confusão da semana passada deve tê-la dissipado em definitivo. O que talvez não seja tão claro é o motivo da gambiarra.Não é segredo que a evolução da inflação tem sido pior do que o Banco Central parecia imaginar havia pouco. Apenas no primeiro trimestre, apesar do adiamento dos reajustes de transportes coletivos e da redução mais forte dos preços de energia, a inflação deve superar em cerca de meio ponto percentual as previsões do BC feitas em dezembro, um padrão que provavelmente se repetirá ao longo do ano.Ainda que não tenha explicitado essa preocupação na sua ata mais recente, parece claro que o BC (finalmente) compreendeu as dificuldades, o que talvez explique a ausência de qualquer menção à convergência (linear ou "não linear") da inflação à meta.Ao mesmo tempo, porém, aferra-se à estratégia de manter as condições monetárias inalteradas "por um período de tempo suficientemente prolongado", afastando a possibilidade de voltar a subir taxas de juros possivelmente até o fim de 2013, se não mais adiante.A percepção de que o BC abdicou do instrumento monetário, enquanto exprime certo desconforto com a inflação, levou o mercado a se perguntar que ferramenta ainda poderia ser usada.A resposta veio pouco depois, quando o BC antecipou a rolagem de suas vendas de dólares no mercado futuro, sinalizando a intenção de trazer a taxa de câmbio para baixo do piso informal de R$ 2 por dólar que vigorou na maior parte do ano passado.O real mais forte poderia baratear tanto as importações quanto os preços domésticos dos produtos exportados. Curiosamente, houve até menção a fontes da Fazenda sugerindo que isso auxiliaria o investimento, depois de anos alardeando o contrário.Se tal estratégia existiu (ou existe), foi vítima imediata de "fogo amigo", manifesto na entrevista do ministro da Fazenda, que afirmou com todas as letras:"Não permitiremos uma valorização especulativa do real e isso veio para ficar".Ato contínuo, reafirmou seu compromisso com o câmbio flutuante, obviamente desde que nos limites que considera apropriados, um oximoro em construção.Raras vezes se viu tamanha descoordenação entre partes do governo, mesmo num que não prima pela unidade de propósito. Mais do que acidente de percurso, porém, acredito que o episódio ilustre muito bem as inconsistências no arranjo atual de política econômica.Não faltam objetivos: o governo quer crescimento alto, inflação baixa, câmbio desvalorizado e uma SELIC reduzida.Não há maiores dificuldades quanto ao último objetivo, dado que se trata de variável controlada pelo BC, assim como, em certa medida, pode sê-lo o câmbio. Faltam, porém, instrumentos.Assim, ao fixar a taxa de juros, o governo abre mão do instrumento que deveria ser usado para controlar a inflação. Daí a tentação de usar o câmbio para esse fim, colidindo com a meta do dólar caro.Na impossibilidade de usar, de forma torta, o fortalecimento do real para esse fim, sobra a possibilidade de atuar diretamente sobre preços, no caso por meio de desoneração tributária e/ou subsídios, os quais contribuem para erodir o desempenho (já nada brilhante) das contas públicas, obrigando a tentativas cada vez mais complexas de tapar o sol com peneiras contábeis, quando não sacrificando a geração de caixa e a capacidade de inversão das empresas estatais.O improviso é, pois, decorrência direta do abandono de uma estrutura que combinava objetivos e instrumentos em favor de uma condução discricionária que, em nome de metas conflitantes, tem-nos levado a situações como a vivida na semana passada.Já inflação alta e crescimento baixo não se improvisam, são resultados de uma política deliberada, fruto da mistura ingrata de voluntarismo e ignorância". Com o conhecimento adquirido durante todos esses anos de estabilização econômica que é uma conquista do povo brasileiro, temos hoje uma gama extraordinária de opções e de energias para a conceituação de um novo modelo político e econômico. Não podemos e não permitiremos improvisações que venham agravar ainda mais as desigualdades em nosso país.Como já dizia o memorável escritor Aldous Huxley, no seu livro "Admirável Mundo Novo", já preconizava as verdades dessa nova sociedade tecnocrática e cruel, em suas complexidades.Diz o autor acima citado que o preço da liberdade é a sua eterna vigilância.Fiquemos atentos.

4 comentários:

  1. Vicente Lima ADM UNP 3 MA19 de fevereiro de 2013 às 15:08

    Acredito que algumas pessoas nascem com um furor para o pensamento crítico, que liga um fato a outro que não parece ter laço, como fez Nicolau Maquiavel, Machado de Assis. Mesmo crendo que a redução das taxas seria a melhor forma para impulsionar a produção das nossas indústrias nacionais; posso também ver que um controle ponderado - como os "instrumentos" insinuados - pode ser até mais simples para obter um resultado similar, por isso creio que você goza do dom que falei no início.

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  2. O texto nos traz um pensamento moderno sobre o funcionamento da macroeconomia e como este fator influencia a microeconomia. Nos dias atuais os assuntos econômicos nos circundam, fala-se muito de valor econômico, diminuição de impostos e crescimento ou não da economia. Uma boa política econômica tem que ser pensada para um longo prazo, para isso ocorrer, deve deixar de ser uma política de gestão e passar a ser uma política de governo, mas os políticos brasileiros não gostam de pensar a longo prazo porque um outro mandato teria que continuar o que o outro começou e isso não é uma prática somente dos políticos de hoje. Os descontinuismos administrativos enfraquecem as políticas de longo prazo comprometendo as bases de uma economia forte.
    PEDRO GOMES - 7NB-FP

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  3. O texto acima me fez refletir como funciona o processo econômico em nosso País. O que me deixa as vezes confusa é quando ocorre um pronunciamento por parte dos representantes sejam eles estaduais, municipais, federais que o salário vai aumentar,logo toda a população já fala: "Tudo vai aumentar também" isso deixa claro que a proporção Aumento de salário X Aumento dos produtos não é justa. Questionamentos as vezes me ocorrem, tais como, porque votamos? Porque pagamos imposto? Se não recebemos o devido retorno desse "investimento"? Acredito também que existe por parte da população falta de fiscalização, para comprovar isso,a maioria da população não sabe nem em quem votou na última eleição. A sociedade em si cai na zona de conforto e não tem a menor vontade de sair dela, desde que não esteja lhe afetando diretamente, mesmo que indiretamente isso vem ocorrendo a tempos.Que a economia de nosso País melhorou isso é verdade, mas muita coisa precisa melhorar para se ter uma vida de qualidade.

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  4. Professor, se passamos por isso tudo é como o senhor mesmo falou na sala de aula as pessoas parecem que gostam de viver na miseria, não procura conhecer realmente seu administrador e sim vota porque fulano é parente de sigrano e vai nessa corda até chegar aonde estamos com pessoas despreparadas e sem a minima intenção de melhoria para com o povo essa sim é a nossa realidade brasileira o povo tem que abrir os olhos e pará de votar por votar e realmente ver que precisamos de pessoas de garra,que mesmo que não vença todos os parâmetros negativos que existe em nossa política de má qualidade mais chegue a pelo menos a uns 40% de melhoria isso sim seria muito bom pra nós todos no contexto geral da ação positiva do mesmo né isso. abraço até a proxima.
    Rejanilda - ENGENHARIA CIVIL- NOITE

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