sábado, 13 de dezembro de 2014

Grande Arnaldo Jabor

O cineasta, crítico, jornalista, escritor, cronista e articulador Arnaldo Jabor, tem contribuído  muito com suas intervenções no Jornal da Noite na Rede Globo e em suas crônicas no Estadão e na CBN, para compreendermos a situação em que se encontra este nosso país. Os seus comentários em uma linguagem apimentada, de fácil  compreensão e de muito conteúdo, prova de sua vasta cultura, permite a qualquer indivíduo ao ter contato com o seu trabalho, entender este país confuso em sua trajetória histórica em busca do desenvolvimento tão sonhado por todos os brasileiros. Grandes artigos o Arnaldo já escreveu, mas recentemente no Estadão ele nos presenteou com uma crônica que impressionou a todos, cujo título é a" Burrice e ignorância" , inclusive apresentei aos meus alunos da universidade, para que fizessem uma reflexão sobre o tema e que se tornou uma aula extremamente rica e divertida. Passo a descrever alguns trechos desse excelente artigo: "A burrice é diferente da ignorância.A ignorância é o descobrimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma força da natureza (Nelson Rodrigues). A ignorância quer aprender. A burrice acha que já sabe. A burrice, antes de tudo, é uma couraça. A burrice é um mecanismo de defesa. O burro detesta a dúvida e se fecha. O ignorante se abre e o burro esperto aproveita. A ignorância do povo brasileiro foi planejada desde a Colônia. Até o século 19, era proibido publicar livros sem licença da Igreja ou do governo. A burrice tem avançado muito; a burrice ganhou status de sabedoria, porque, com o mundo muito complexo, os burros anseiam por um simplismo salvador. Os grandes burros têm confiança em si que os ignorantes não têm. Os ignorantes, coitados, são trêmulos, nervosos, humildemente obedecem a ordens, porque pensam que são burros, mas não são; se bem que os burros de carteirinha estimulam esse complexo de inferioridade. A ignorância é muito lucrativa para os burros poderosos. Na porcentagem de cérebros, eles têm uma grande parcela na liderança do país. No caso da política, a ignorância  forma um contingente imenso de eleitores, e sua ignorância é cultivada como flores preciosas pelos donos do poder. Quanto mais ignorantes melhor.  Como é o design da burrice? A burrice é o bloqueio de qualquer dúvida de fora para dentro, é uma escuridão interna desejada, é o ódio a qualquer diferença, à qualquer luz que possa clarear a deliciosa sombra onde vivem. O burro é sempre igual a si mesmo, a burrice é eterna como a pedra da Gávea (Nelson Rodrigues). De certa forma , eu invejo os burros. Como é seu mundo? seu mundo é doce e uno, é uma coisa só. O burro sofre menos, encastela-se numa só ideia e fica ali, no conforto, feliz com suas certezas. O burro é mais feliz. A burrice não é democrática, porque a democracia tem vozes divergentes, e o burro é surdo. E autoritário: quer enfiar burrice à força na cabeça dos ignorantes. Em nossa cultura, achamos que há algo sagrado na ignorância dos pobres, uma sabedoria que pode desmascarar a mentira inteligente do mundo. Só os pobres de espirito verão a Deus, reza nossa tradição. Existe na base do populismo brasileiro uma crença lusitana, contrarreformista, de que a pobreza é a moradia da verdade. Nosso grande crítico literário Agripino Grieco tinha frases perfeitas sobre os burros. A burrice é contagiosa; o talento, não. Ou ele não tem ouvidos, tem orelhas e dava a impressão de tornar inteligente todos os que se avizinhavam dele. Para Arnaldo, inteligência é chata; traz angustia com seus labirintos. Inteligência nos desorganiza; burrice consola. A burrice é a ignorância ativa, é a ignorância com fome de sentido". Realmente o Arnaldo tem razão, eu também invejo a burrice, neste país ela se eterniza, fruto de uma estrutura política arcaica que ainda domina este país. Até quando?

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