quarta-feira, 30 de março de 2016

Novos ricos

Mia Couto é um dos .principais escritores africanos da Atualidade. Tive o privilegio de ler muitos livros do autor que nasceu em Beira, em Moçambique e sugiro aos meus leitores que busquem acessar os seus livros para compreenderem os valores e a cultura africana que em determinados momentos convergem com a nossa cultura e a relação histórica entre esses dois continentes.Nas redes sociais têm uma crônica de Mia  cujo título é "Pobre dos Nossos Ricos "que reflete muito bem a nossa situação política em que nos encontramos. Relato a seguir: " A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos. Mas ricos sem riqueza.Na realidade , melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados. Rico é quem possui meios de produção. Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.Endinheirados é quem simplesmente tem dinheiro ou pensa que tem. Porque na realidade, o dinheiro é o que o tem a ele. A verdade é esta:são demasiados pobres os nossos ricos. Aquilo que têm,não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu,é propriedade de outros. É produto de roubo e de negociatas.Não podem,porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura.. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem. O maior sonho dos nossos novos - ricos é, afinal muito pequenito: um carro de luxo, umas efémeras cintilâncias. Mas a luxuosa viatura não pode sonhar muito, sacudida pelos buracos das avenidas. O Mercedes e o BMW não podem fazer inteiro uso dos seus brilhos,ocupados que estão em se esquivar entre chapas muito convexos e estradas muito côncavas. A existência de estradas boas dependeria de outro tipo de riqueza. Uma riqueza que servisse a cidade. E a riqueza dos nossos novos-ricos nasceu de um movimento contrário: do empobrecimento da cidade e da sociedade.Servem-se do erário público como se fosse a sua panela pessoal. Envergonha-nos a sua arrogância, a sua falta de cultura,o seu desprezo pelo povo, a sua atitude elitista para com a pobreza. Como eu sonhava que Moçambique tivesse ricos de riqueza verdadeira e de proveniência limpa! Ricos que gostassem do seu povo e defendessem o seu país. Ricos que criassem riqueza. Que criassem emprego e desenvolvessem a economia. Que respeitassem as regras do jogo. Numa palavra, ricos que nos enriquecessem". Sem mais palavras, parabéns Mia Couto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário