sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Vergonha

Mais uma vez comento em resumo um artigo do filósofo Mario Sergio Cortella, no livro "Não nascemos prontos" da trilogia  Provocações filosóficas, cujo título é "Vergonhas amargas". Em resumo diz o mestre: Vergonha! A frase ecoa: nós (eles) também construímos e fizemos está cidade, nós também edificamos este lugar,nós também pusemos nossa vida na obra coletiva, mas, ainda assim, somos envergonhados. Envergonhados por habitações paupérrimas, por corpos famintos e adoentados, por privação do lazer criativo,por desempregos socialmente evitáveis,por inseguranças agudas,por humilhações cotidianas, corriqueiras e aparentemente infindáveis. Não é possível admitir a persistência desse envergonhamento; não é aceitável assimilar depauperações da dignidade coletiva; não é moralmente justificável a omissão e a lerdeza de uma sociedade no enfrentamento de tudo aquilo que humilha,ofende, e degrada a integridade do outro  na partilha da vida e na convivência humana.Por isso,o amoroso pernambucano e universal educador Paulo Freire tem uma reflexão que auxilia muito a compreensão e a tarefa do nosso tempo e que precisa ser repetida não até que as pessoas se cansem, mas até que se convençam: " A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito.Mas se eu não fizer hoje o que hoje pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude fazer". Sábia advertência, poderoso desejo! Em outro artigo deste mesmo livro cujo título é "A resignação como cumplicidade" em resumo diz o autor: Pode-se argumentar que , felizmente, ainda há muita esperança. Mas, como insistia o inesquecível Paulo Freire,não se pode confundir esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Aliás, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não tem alternativa, que a vida é assim mesmo. Violência? O que posso fazer?Espero que termine. Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam. Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam. Corrupção?O que posso fazer? Espero que liquidem. Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar e construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E se há algo que Paulo Freire fez o tempo todo foi incendiar a nossa urgência de esperanças.Julio Cortazar, o argentino que deu novos contornos à prosa latino-americana dos anos 1960 em diante, afirmava que " a corvadia tende a projetar nos outros a responsabilidade que não se aceita". André Destouches, compositor e diretor artístico da Ópera de Paris advertia que "os ausentes nunca têm razão". Precisamos refletir as nossa posições. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário